Já ouviram a expressão "solte o braço"?
Tenho certeza que sim. Agora não sei se vocês assistiram, e se não viram, é uma grande aula sobre "soltar o braço" que poderão ver, porque o que eu presenciei naquele dia em frente a TV no US OPEN foi algo espetacular! Novak Djokovic vs Juan Martin Del Potro foi um dos 10 maiores jogos que assisti durante toda minha vida.
O placar do jogo infelizmente não foi tão justo, porém se não foi é porque houve algo de incrível. De ambos os lados foi um show de forehands espetaculares, monstruosos, fenomenais, etc. Sem contar os backhands, que na minha opinião são os melhores do circuito atual juntos ao de Andy Murray.
Não estou brincando! Foi pancada para todos os lados com longas trocas, a torcida a cada golpe devastador de forehand (que tinha resposta por incrível que pareça) soltava um OOHH! Eu nunca vi a bola com tanta potência como naquele dia.
Del Potro nunca fez uma bola andar tão rápido quanto neste jogo, porém do outro lado estava um Djokovic voando baixo e respondendo à altura. Por isso venceu o jogo em 3 sets, apesar de ter sido um jogo disputadíssimo. Veja um pouco do que falei neste vídeo abaixo, e para quem é apaixonado assista mais da partida no You Tube.
A resposta vem quando analisamos os grandes forehands do circuito. A maioria deles apresentam uma amplitude ótima de trajetória da raquete durante o golpe, começando com a fase de Armação (Preparação do golpe) e finalizando com a fase de Terminação (depois que a bola já se foi). É nada mais, nada menos do que a cabeça da raquete começar alta e atrás da linha do corpo de um lado e terminar alta e atrás da linha do corpo no outro lado em um movimento circular. Entre outros fatores, uma serve para acelerar e a outra para desacelerar.
O que seria a biomecânica com uma amplitude ótima da trajetória da raquete nessas duas fases do golpe?
Ao fazermos a armação com o giro de tronco e ombro, a cabeça da raquete deverá ser levada para trás da linha do corpo, em aproximadamente 180 graus em relação à quadra (tronco de lado para a quadra) numa altura que seja próxima da cabeça -> de preferência na altura da cabeça ou um pouco acima. Não deve exceder para evitar a perda de precisão e controle, e não deve faltar para evitar a perda de potência (ver todas as fotos/exemplos abaixo).
Depois de passar pelas fases de descida, contato e pós-contato num movimento circular, vem a terminação. A cabeça da raquete deverá ficar próxima da altura do ombro com o cotovelo flexionado e a palma da mão apontando para fora do corpo (palm out). Pode ser um pouco acima ou um pouco abaixo do ombro(ver todas as fotos/exemplos abaixo).
Importante: Dependendo da posição do jogador em relação à quadra e à bola, pode ocorrer uma variação na amplitude, mas o relevante é a manutenção do padrão, uma vez que conseguirmos posicionar para golpear!
Os exemplos que veremos adiante são de jogadores que são conhecidos por terem em seu arsenal de golpes, um forehand matador com as características que estão sendo afirmadas.
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Lógico que pela individualidade biológica, um jogador pode fazer uma bola com potência mesmo com uma amplitude menor. Só que dependerá de vários outros fatores que ajudam na potência, como por exemplo, ter maior constituição de fibras musculares rápidas em sua fisiologia. Mas sem entrar nesses outros fatores, o que quero afirmar aqui é o que tenho visto nas diversas categorias da modalidade.
Muitos atletas estão fazendo força demais para imprimir potência na bola utilizando-se de uma amplitude pequena!
Vejamos o seguinte:
Potência = Força x velocidade -> Portanto, potência é a rapidez que uma força realiza um movimento. Se aumentarmos muito a força de ativação muscular (> rigidez) diminuiremos a velocidade do movimento e vice-versa. Se isso acontece e o atleta não tem a noção dessa teoria, ele pode achar que para acelerar mais será preciso mais força, o que tem como consequência um aumento ainda maior na rigidez, que por sua vez deixa os movimentos mais encurtados (principalmente a terminação que tende a ficar na altura da cintura), o que só agrava a situação.
E qual é o provável resultado? Desgaste e fadiga, o que pode levar a falta de controle e precisão dos golpes numa partida longa, e com o tempo à uma lesão!
Infelizmente por falta de informação tanto de professores e treinadores, quanto dos próprios praticantes e atletas, é o que está acontecendo no tênis brasileiro atualmente.
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No curso de Atualização em Biomecânica ministrado por Ludgero Braga Neto em que estive presente, o fisioterapeuta Ricardo Takahashi mencionou sobre um estudo realizado com tenistas tops brasileiros. O objetivo era saber qual o padrão de ativação muscular do braço desses jogadores durante a execução dos golpes. E foi constatado que esses atletas apresentam um padrão de ativação diferente da maioria dos jogadores internacionais.
Durante a fase de Armação e Terminação a musculatura do braço deve estar mais relaxada do que contraída! O momento de maior ativação muscular (aceleração máxima e firmeza) do golpe é próximo e durante o contato com a bola. Ou seja, o jogador brasileiro está tendo um gasto maior de energia devido a maior ativação muscular em momentos que os músculos deveriam estar mais "relaxados".
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Para entender melhor vou fazer uma analogia para a Armação e depois para a Terminação:
Um carro precisa atingir a velocidade de 100km/h em duas pistas distintas. Uma pista de 100m e outra de 200m. Em qual pista ele deverá forçar mais o motor para atingir os 100km/h? Óbvio?! É claro que na pista menor.
O carro é a raquete, o motor é seu braço e a pista é o tamanho do movimento que você fará até atingir a bola ("Looping" ou movimento circular). Portanto quanto maior for seu movimento de Armação, maior será o tempo para acelerar a raquete, consequentemente menor será a força que utilizará e menor será o seu desgaste.
OBS: O tamanho da trajetória da raquete não pode ser excessiva para não perder a precisão do golpe.
Se esse mesmo carro depois de atingir os 100km/h tiver que parar em dois tamanhos de pista. Uma de 25 m e outra de 50m. Em qual pista ele vai gastar mais o freio para parar? Óbvio?! É claro que na pista de 25 m.
Novamente o carro é a raquete, a pista é o tamanho do movimento de Terminação, só que agora o freio é o braço. Portanto, quanto maior o seu movimento de desaceleração, menor a força que utilizará para frear a raquete e menor será o seu desgaste.
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Notaram como há um padrão na amplitude dos golpes destes jogadores com forehands acima da média?
Espero que sim.
E não vale a pena seguir esses exemplos?
Esse é um aspecto técnico que deve ser ensinado desde a iniciação com o aprendizado global e chegando até o competitivo com seus maiores detalhes dentro dessas fases.
E solte o braço!
Grande abraço e até o próximo artigo sobre o topspin no backhand.
Por Gesner Menegucci
Treinador e professor
Formado em Esporte - USP
Coach Sanchez-Casal
Coach Bollettieri Tennis Academy